26/03 - Concepções de Infância

5 Pontos importantes
·      Levar o leitor a pensar sobre qualidade na Educação Infantil partindo das concepções de criança, infância e Educação infantil. Como esses conceitos são socialmente construídos, mutáveis e flexíveis ao ambiente cultural, pode-se dizer em síntese que “há crianças e crianças, infâncias e infâncias”. É importante explorar essas concepções reflexiva e criticamente. Se aproximam da criança real?
·      Programas de Educação infantil estão intimamente ligados às concepções. Problema: Incorporar valores da cultura dominante que se distanciam da criança real a ser atendida.
·      Evolução histórica da representação social de infância e da criança = variações das concepções. Diferença dos conceitos criança e infância. Diferenças dicotômicas: paparicação e moralização; autonomia e controle; liberdade e subordinação; ternura e severidade. Sentimento de infância existente hoje não é natural. (Áries ()1981. Surgiu após a Idade média, não significando falta de afeto pela criança)
o   Infância reduzida - até por volta do século XII
o   Paparicação - iniciou-se no século XIII - XVI (fonte de distração para o adulto)
o   Sentimento de Infância: a partir do século XVII - preocupação com a educação - moralismo - influência na educação do século XX.
o   Psicologia apontava a necessidade da segregação dos adultos para receber educação.
o   Hoje: surgimento do indivíduo. Desaparecimento da Infância (Corazza, 2002) Não é possível viver uma infância idealizada.

·      História legal
Instituição de Educação Infantil - é necessária?
Mais de 1 século e meio de história, mas teve impulso maior a partir da década de 70. (expansão quantitativa)
o   1975 - introduzida nas ações do MEC - criação da Coordenação de Educação Pré-Escolar (Coedi).
o   Força da Legião Brasileira de Assistência (LBA)
o   Décadas 70 e 80 - mobilização de vários setores em “prol” da criança (ganho no atendimento).
o   1988 - Constituição - artigo 208 - garantia de atendimento de crianças de 0 a 6 anos em creches.
Artigo 227 - mobiliza estado e família para garantir os direitos da criança que passa a ser vista como cidadã.
o   1990 - Criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (CEA)
o   1994 - O MEC elabora uma Política Nacional de Educação Infantil.
o   1996 - LDB 9.394/96. A Educação Infantil passou a integrar a principal lei de educação do país. Apesar de diversos títulos e artigos, por deixar claro que a obrigatoriedade fica a partir do Ensino Fundamental, os dados do censo do IBGE (2000) confirmaram a sua supremacia sobre os outros níveis da Educação Básica. Evidenciou a precariedade do atendimento de crianças de 0 a 6 e a relação entre renda familiar e possibilidades de frequência.
Questão: Que impacto isso tudo teve na sociedade?
Avanços nas leis não garantiram mudanças na realidade.
·      Tentativas para fazer valer a LDB 196
o   1998 - Referencial Curricular da Educação Infantil (RCNEI) do MEC - após estudos e debates ele é publicado e trata de 3 grandes temas:
§  Relexões sobre creche, pré-escola, concepções...
§  Formação Pessoal e Social (Identidade e autonomia da criança)
§  Conhecimento do mundo.
o   Controvérsias, críticas e divergências levaram publicações de leis como a lei nº 11.114 de 16 de maio de 2005 que ampliou o Ensino Fundamental para nove anos.
o   Resolução de nº 3 de 3 de agosto de 2005 definiu normas nacionais para ampliação do Ensino Fundamental para nove anos.
o   2007 - Discussão na Câmara Federal, o FUNDEB que substituirá o FUNDEV de 96.
o   Recursos determinados pelo Fundo não incluía a Educação Infantil até 5 anos.
Discussão sobre as funções da Educação Infantil. Assistencialismo x Educação.
Para Kulhmann Jr. (2001) essa polarização entre assistir e educar é equivocada. Não são coisas opostas.
§  Denominações creche e pré-escola - diferenças no atendimento, faixas etárias, objetivos educacionais.

Questão
o   Para quê: adequar, preparar ou antecipar o Ensino Fundamental?
Articulação (como Ensino Fundamental) - olhar para a criança - formação.
o   Distância entre as concepções teóricas e as concepções dos profissionais da Educação Infantil em suas falas.
Ainda falta um bom caminho a percorrer em busca da qualidade na Educação Infantil, mas alguns passos já foram dados, isso é o que importa: o continuar em constante movimento, parar jamais.

BASSO, Cláudia de Fátima R.,
CHAVES, Laura Cristina P: Concepções: Ponto de partida, In: Educação infantil de Qualidade: direitos das crianças e das Famílias.
Blumenau, Nova Letra, 2007

26/03 - Organograma (Educ. Infantil)

19/03 - A construção social da criança: O que isso significa?

Na nossa sociedade cristã ocidental, a criança, como construção social, é entendida enquanto uma construção social sobre um período da vida humana que informa as experiências históricas de ser criança. Se a infância é determinada por um período, se modifica e atende anseios da sociedade, o ser criança também. Vê-se, então, portanto, que não existe um único conceito fechado acerca do que é ser criança. Ele varia nas épocas, culturas e condições sociais e econômicas.
Sendo que um conceito é fruto de uma negociação social, cada sociedade, por meio das suas práticas e elementos culturais, sinaliza o que é a criança.
O sentimento de infância, o olhar para a criança como possuidora de especificidades, surgiu no final da Idade Média. Pode-se imaginar que isso não tenha ocorrido antes por conta da grande taxa de mortalidade das crianças pequenas e da simplicidade da organização social baseada grandemente na vida rural e na produção dos meios de subsistência.
Com os avanços tecnológicos, o advento da tipografia e o surgimento do telégrafo marcaram mudanças nas concepções de criança. Ela passou a ser vista como um ser de falta que deveria ser preparada para a vida adulta, agora letrada e necessitando de maiores habilidades. Da paparicação à moralização e racionalidade, a criança foi submetida à educação padronizadora. Até hoje essas concepções aparecem.
A psicologia entende o desenvolvimento humano como um processo de construção. Diferentes estudiosos formularam suas concepções baseadas em visões naturalistas, inatistas e interacionistas.
No meio acadêmico, os pensamentos de Vigotski acerca do pensamento e da subjetividade como fruto cultural está em voga. Entender o outro (LAROSSA) e estabelecer uma relação dialética com essa criança que tem muito a falar sobre si mesma, mostra-se imperativo nesse momento de mudança no conceito de criança, que é por natureza mutável historicamente.

12/03 - A infância: história e concepções

GALVÃO, Andréa Studart Corrêa. Crianças, Infâncias e Educação. In: Educação Moral e Qualidade na Educação Infantil: desafios ao professor. Dissertação de Mestrado. Adapt. Brasília, UNB: 2005. p. 37-51.
Andréa Studart Corrêa Galvão é coordenadora e professora do curso de Pedagogia da Faculdade Paulista – UNIP de Brasília; coordenadora do curso de Especialização em Educação Infantil da Faculdade Gama Filho em Brasília.
A autora discorre sobre o tema infância e sua ligação com a educação baseando-se em citações de autores de autoridade à cerca do conceito de criança e infância ao longo dos tempos. O texto está dividido em 3 subtópicos: a invenção da infância; as diferentes faces da criança e da infância igualadas num vir-a-ser; construindo um outro olhar- o encontro com a infância na alteridade. Primeiramente o texto afirma que os conceitos “criança” e “infância” não são sinônimos e são construídos socialmente. A aproximação deles se dá através do sujeito (a criança), se diferenciam de acordo com as vivências, contextos e com a duração - a infância é um período mais longo. Complementam-se na complexidade das questões e na necessidade do entendimento das suas fases e mudanças provocadas pelo meio social e suas exigências.
Ao citar Freitas e Kullmann Jr (2002), a autora ilustra como a história da infância e da criança se faz do ponto de vista dos adultos. Esses autores sugerem dois caminhos como opção. A primeira seria uma perspectiva unilateral- os adultos falando sobre as crianças- “um olhar de fora”- A segunda seria por meio do diálogo com a criança, ouvindo sua voz e dando sentido a essa fala estabelecendo uma relação de alteridade, numa dimensão ética.
Não importa o caminho que se escolha, as conseqüências para a criança, serão a base para a organização das instituições de educação infantil. Essa relação entre criança, infância e educação permanece imutável. São transformadas à medida que novos elementos culturais surgem, novas necessidades e a realidade muda. Por isso, não há como entender a criança de hoje sem levar em consideração o passado, as raízes que moldam as idéias e concepções sobre o tema, como afirma Gadotti (2000), que para se entender o presente e abrir possibilidades para o futuro é preciso visitar o passado. Visitando o passado, fica claro que o sentimento de Infância não é algo natural, ele foi construído socialmente.
No primeiro subtópico a autora cita um dos pioneiros a estudar a história da infância. Segundo Aries (1981), por meio da arte e da iconografia, é possível perceber a evolução da história desse sentimento, do início de um olhar para criança como ser que necessita de cuidado, atenção,  diferenciados por parte dos adultos. Esse pesquisador aponta que na Idade Média esse sentimento de infância era inexistente, não significava ausência de afeto pelas crianças, o que não existia era a consciência da particularidade infantil. Nos séculos XVI e XVII surgem sentimentos de paparicação. Os adultos enxergavam nas crianças ingenuidade e pureza. Até os 5 ou 7 anos elas eram vistas como bibelôs, a infância era curta, pois passados esses anos, a criança se mistura aos adultos e participava da vida comum.
No final do século XVII ocorreu uma mudança: os bibelôs foram alvos dos moralistas que surgiram e viam com maus olhos tamanha paparicação. A preocupação deveria ser em disciplinar, usar a razão, moralizar os pequenos. Homens de lei e religiosos defendiam uma formação moral do ser imaturo, inocente e frágil.
A criança passou a ser vista como incompleta nesse contexto, surge a escola para as crianças  no século xx, para atender às demandas e anseios da sociedade em busca de formação moral. A criança transformou-se em aluno. A escola seria um lugar que a protegeria do ambiente perigoso para a sua pureza – o convívio social. Os uniformes a tornava igual e como aluno (sem luz), deveria se sujeitar a escola (lugar do ócio) a homogeneização da sua natureza e domesticação do seu corpo e mente.
Postman (2002) acrescenta aos estudos sobre o tema ao indicar que a infância conhecida atualmente está desaparecendo. Afirma que a história da infância passou por três grandes momentos:
1º- invenção da infância como advento da tipografia;
2º- o auge no século XIX, quando a criança é considerada essencial à família e à sociedade;
3º- desaparecimento da infância, com o surgimento do telégrafo.
Para ele a tipografia criou um mundo simbólico que exigiu uma nova concepção de idade adulta. O mundo letrado exigiu novas habilidades. A infância surgiu nesse contexto de necessidade de formar leitores e escritores.
A autora ainda cita Postman para afirmar que o sentimento de vergonha foi concomitante ao sentimento da tipografia. A sociedade adulta deveria preservar a inocência da criança.
A psicologia do desenvolvimento infantil desempenhou um papel dominante e normativo. Como afirmam Dalhberg, Mos Pence (2003).
A universalização da criança e a hierarquização de estágios de desenvolvimento foram disseminadas no mundo todo e muitas concepções de infância sugiram e se fazem presentes até a atualidade.
No segundo subtópico, a autora discorre sobre as implicações das concepções da modernidade sobre infância. Elas traçaram o caminho a ser percorrido pela criança. Por meio da educação. Para Dahlberg, Mos e Pence (2003), a preocupação não é além der às necessidades latentes da primeira infância, mas sim evitar problemas futuros. A dimensão ética e preterida em função da técnica, pois a criança é vista como uma “tabula rasa”, com espaço a ser preenchido. Cultura, preparação para o mercado de trabalho, consumidores em potencial.
Os autores criticam não a assistência, mas sim a forma e finalidade desse atendimento. Carente de ética, reduz a criança a uma “matéria prima”. As visões naturalistas, sob o ponto de vista do adulto (olhar de fora) sofrem críticas de Boto (2002).
Kramer (1995) é citado para ilustrar a concepção de infância que considera o contexto e a cultura. Para ela, não existe “a criança”, mas sim indivíduos pequenos que são afetados pela situação da “classe social”. Larrosa e Lara (1998) sugerem um rompimento com paradigmas e com isso uma aproximação com o “outro”.
No terceiro subtópico, a autora suscita a necessidade de um ouro olhar, um olhar na alteridade, com disposição de escutar, sem saberes prontos a respeito do “outro”. Como afirma Larrosa (1998), reconhecer a infância na sua humanidade, como outro diferente do eu, com seu comportamento, sua cultura, sua linguagem, seu modo de perceber e analisar o mundo (pág. 149). Tudo isso no campo da ética, vista como um tesouro oculto por jamais ser esgotável. A alteridade se faz necessária, pois, como afirma Oliveira (2001), a compreensão das crianças não se faz mais pelo olhar impositivo de máscaras esculpidas pelos adultos, mas sim pelo respeito.
A pedagogia deve se adequar a essa nova relação, possibilitar aos envolvidos com a Educação Infantil, uma mudança de atitude.
O texto, de forma clara e contundente, explicita a evolução da história da criança e infância, nos alerta para as concepções que ainda estão vigentes no imaginário social e que ignoram a complexidade do indivíduo.
O perigo da padronização, da visão da falta, do ir a ser, leva a programas educacionais vazios de compromisso com a ética. Pois olham a criança como um ser “menor”.
Devemos nos esforçar a refletir e mudar nossas práticas baseadas num estudo consciente dessas concepções e em busca de uma aproximação honesta com as crianças, sem hesitações, sem julgamentos, mas sim na postura humilde de que elas “o outro”, tem muito a nos dizer do que precisamos escutar.
Esse texto interessa a todos que estão envolvidos na Educação Infantil, que sejam profissionais da educação, gestores, legisladores e governadores.

12/03 - Exposição Oral

 ·         Texto: Crianças, Infâncias e Educação
                        Andréia Studart Correa Galvão
            Exposição oral da professora baseado na apresentação do PowerPoint

·         Tese: Educação Moral
·         Infância e criança são palavras sinônimas? Não
·         Onde se aproxima? Sujeito (criança) - São conceitos historicamente construídos.
·         Onde se diferenciam? De acordo com as vivências, contextos. Infância é um período mais amplo.
·         Onde se complementam? Entender as fases, questões imbricadas.
·         Conceito da autora sobre a criança e infância - pág. 37 - citação de Freitas e Kuhlmann Jr. (2002 p. 07)

1º - Um olhar de fora - o que se tem como representações sobre criança.
Relação de Alteridade
·         Compreender a criança a partir de suas experiências vividas na infância, da sua história.
·         Falar com ela, senti-la... Particularidades.
·         Vê-la como um “outro” numa dimensão ética do ser-criança (ética - consequências)
·         O sentimento de infância: o que é
>> consciência do que ocorre - conceito (de ARIES, 1981) > criança que quebra o carrinho para saber como funciona.
A infância e a criança ao longo da história, de acordo com ARIES (1981)
·         Idade Média - “sentimento de infância não existia.
·         Séculos XVI e XVII - paparicação: não é o ideal.
·         Vista como bibelô.
·         A partir do século XVII surgiram os moralistas - homens da lei e religiosos com suas críticas à “paparicação” das crianças.
·         Preocupação com a disciplina e à racionalidade.
·         Começou-se a dar um espaço, moralização. Não misturar com os adultos.
·         Surgiu a escola do século XX - escola para crianças.
·         A escola transformou as crianças em alunos - aluno (sem luz) escola (lugar do ócio)
A escola homogeneizou a natureza particular da infância e domesticou seus corpos e mentes.
      Utopia - no máximo - agrupar.
·         Escola: espaço criado para a elite.
·         Abrigar a infância sob a perspectiva do adulto - a formar-se.
A criança não é vista como sujeito, em si mesma.
·         Autores da psicologia - estágios de desenvolvimento - percebidos como universais.
·         Contexto sócio-histórico.
·         Locke: concepção de outros.
Rosseau -
Dewey - pedagogia de projetos.
Piaget -
Dahlberg, Moss e Pence (2003)

As concepções da modernidade traçaram o caminho a ser percorrido pela criança, por meio da educação, determinado pelo adulto, como um ponto de partida e outro de chegada.

Olhar os dois lados: de fora e de dentro.
Dois pontos: Partida e o de Chegada.
·         Preparação da criança para a vida adulta.
·         Inserção no mercado de trabalho
·         Na visão de Krammer (1995)
A concepção de infância (...) supõe que se conheça como se dá inserção da criança na sociedade (...) trabalha?
·         Para Larrosa (1998)
Algo que escapa... facetas inalcançáveis.
Repensar as relações com esse outro “criança”.
E hoje?
RCNEI
Mudança de olhar...
Aceitar os dois olhos.
·         Diagnóstico inicial - registros - o que se faz com esses registros.
·         Desenvolver o sentimento verdadeiro de infância.