Avaliação do Curso

AVALIAÇÃO FINAL DO CURSO
Duas perguntas norteadoras
1) O que aprendi com a disciplina História da Infância e Políticas de Educação infantil no Brasil?
A discussão mais marcante para mim foi e torno do conceito de infância e criança e as tendências que influenciam as políticas direcionadas à Educação Infantil.
Chegar à visão crítica da Educação Infantil se fez um ideal a perseguir a partir desse curso. As leituras propostas pela professora, principalmente de autores vistos como autoridades nas pesquisas sobre o tema, como Kuhlmann Jr, Kramer e Oliveira me auxiliavam nas reflexões. Sempre gostei de estudar história. Apesar de alguns acharem um tanto quanto monótono, estudar sobre história e políticas, no meu caso, tenho a clareza da importância de se investir no estudo desse ramo do conhecimento, pois tudo o que temos hoje na educação, tem uma história que levou a isso e se achamos que as políticas vigentes não atendem às nossas necessidades, analisando os conceitos e a dinâmica brasileira, entendemos que as mudanças são morosas e que nem sempre elas garantem avanços e que os retrocessos fazem parte do jogo (infelizmente).
Mas... se a Constituição Federal de 1988 representa um marco para a Educação Infantil ao garantir, no art. 208 inciso IV - o atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade, as décadas posteriores à carta magna no Brasil continuam evidenciando que apesar dessa garantia, o Estado ainda se furta em fazer cumprir de fato esse direito a muitas crianças.

2 ) Quais foram os impactos em minha vida docente
Primeiramente, parei de refletir sobre qual conceito de infância (educação infantil) construí ao longo da minha vida. É incrível como gosto da visão de jardim de infância. Amo cuidar das “flores”. Tenho consciência de que, na verdade, as crianças são sujeitos, mas fiquei incomodada e decidi mudar um pouco o discurso de “mãezona”. Sempre me referi aos alunos como “meus meninos” e sempre tive uma relação muito afetiva com eles. Cheguei a pensar que a tendência crítica, apontada por Kramer, exigiria cortar o afeto. Mas, na verdade, raciocinei que o que é preciso controlar é mania de isentar os pais e a escola onde atuo da responsabilidade que lhes compete e parar de bancar a mulher‑maravilha, tentando resolver tudo, desde me calara diante de desmandos e de ter uma postura assistencialista frente aos pais. Objetivos: buscar estabelecer uma relação de autoridade com as crianças, com os pais e com as colegas. Acredito que sempre busquei isso, só que agora farei isso mais conscientemente.
Esse curso me fez refletir: Quem é Obetisa?
Olhando pelo ângulo da Educação, eu sou fruto de políticas para Educação Infantil baseadas na teoria ad privação cultural, com caráter compensatório. Comi a sopa da LBA, estudei no horário intermediário, a minha turma de pré de 4 anos em 1983 tinha uma monitora adolescente que mais tarde namorou o meu irmão e até hoje é minha amiga. Meus colegas e minha irmã participaram de movimentos pró-constituinte e cantaram uma paródia na Câmara dos Deputados, onde falava...
“Constituinte, você é a esperança dos adultos e das crianças.
Amor e paz é o que queremos, este é o direito que nós já temos.
O nosso mundo não é colorido, não é lindo, não é uma bola de sabão, não é ilusão, nossos caminhos não são floridos, não são lindos, não tem sabor de emoção.
Vem que estamos a esperar, se o Brasil mudar, seremos mais felizes..basta só você lembrar, tem criança para educar. É só acreditar!”
Os meus professores de 1º grau
São as minhas maiores referências de profissionais.
Os meus professores do magistério viveram comigo a incerteza do fim do magistério em nível de 2º grau.
Os meus professores de Pedagogia na UnB, viveram comigo as discussões e as mudanças no currículo do curso...
O curso que passei em 1995 quando ainda estava no 2º ano do magistério foi o último realizado pelo Instituto IDR.
Fui uma das últimas a entrar na fundação no regime 20/20 na Secretaria antes da Escola Candanga.
Vivi a implantação da jornada ampliada na Fundação Educacional, que passou a ser “Secretaria de Educação”, vivi a implantação o Ensino Fundamental de 9 anos e o projeto do Bloco Inicial de alfabetização (BIA). Vivi os impasses da Inclusão de alunos vindos do Ensino Especial e estou atualmente cursando uma Especialização em Educação Infantil promovida pelo MEC-UnB.
O que quero dizer com tudo isso é que me percebi como um sujeito histórico de verdade. Estou presente nas principais mudanças na Educação no Brasil e do DF nos últimos 30 anos.
Me pergunto: Será que sou o que o Estado projetou ao instituir um programa de atendimento educacional de massa? Se participasse de uma pesquisa sobre o rumo das crianças atendidas na Educação Infantil no início dos anos 80, os pesquisadores apontariam que o investimento do Estado resultou na mudança de vida da minha família?
Não diria que compensou a “falta”, mas sim me possibilitou viver experiências significativas que auxiliaram no estabelecimento de relações valiosas.

09/04 - Apresentações dos Trabalhos

Apresentações das pesquisas - Grupos de 1 a 5
Brasil - Décadas de 80, 90 e 2000
DF - Décadas de 60, 70 e 80
Gostei das apresentações. As colegas estão de parabéns pelo esforço. Espero contar com o material produzido nas pesquisas. Assumimos o papel de pesquisadoras e em pouco tempo realizamos trabalhos com informações significativas. Obrigado Profª Maysa, pela oportunidade de vencer esse desafio (Difícil!!!)

09/04 - Apresentações dos Trabalhos


Apresentações das pesquisas - Grupos de 1 a 5
Brasil - Décadas de 80, 90 e 2000
DF - Décadas de 60, 70 e 80
Gostei das apresentações. As colegas estão de parabéns pelo esforço. Espero contar com o material produzido nas pesquisas. Assumimos o papel de pesquisadoras e em pouco tempo realizamos trabalhos com informações significativas. Obrigado Profª Maysa, pela oportunidade de vencer esse desafio (Difícil!!!)

26/03 - Concepções de Infância

5 Pontos importantes
·      Levar o leitor a pensar sobre qualidade na Educação Infantil partindo das concepções de criança, infância e Educação infantil. Como esses conceitos são socialmente construídos, mutáveis e flexíveis ao ambiente cultural, pode-se dizer em síntese que “há crianças e crianças, infâncias e infâncias”. É importante explorar essas concepções reflexiva e criticamente. Se aproximam da criança real?
·      Programas de Educação infantil estão intimamente ligados às concepções. Problema: Incorporar valores da cultura dominante que se distanciam da criança real a ser atendida.
·      Evolução histórica da representação social de infância e da criança = variações das concepções. Diferença dos conceitos criança e infância. Diferenças dicotômicas: paparicação e moralização; autonomia e controle; liberdade e subordinação; ternura e severidade. Sentimento de infância existente hoje não é natural. (Áries ()1981. Surgiu após a Idade média, não significando falta de afeto pela criança)
o   Infância reduzida - até por volta do século XII
o   Paparicação - iniciou-se no século XIII - XVI (fonte de distração para o adulto)
o   Sentimento de Infância: a partir do século XVII - preocupação com a educação - moralismo - influência na educação do século XX.
o   Psicologia apontava a necessidade da segregação dos adultos para receber educação.
o   Hoje: surgimento do indivíduo. Desaparecimento da Infância (Corazza, 2002) Não é possível viver uma infância idealizada.

·      História legal
Instituição de Educação Infantil - é necessária?
Mais de 1 século e meio de história, mas teve impulso maior a partir da década de 70. (expansão quantitativa)
o   1975 - introduzida nas ações do MEC - criação da Coordenação de Educação Pré-Escolar (Coedi).
o   Força da Legião Brasileira de Assistência (LBA)
o   Décadas 70 e 80 - mobilização de vários setores em “prol” da criança (ganho no atendimento).
o   1988 - Constituição - artigo 208 - garantia de atendimento de crianças de 0 a 6 anos em creches.
Artigo 227 - mobiliza estado e família para garantir os direitos da criança que passa a ser vista como cidadã.
o   1990 - Criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (CEA)
o   1994 - O MEC elabora uma Política Nacional de Educação Infantil.
o   1996 - LDB 9.394/96. A Educação Infantil passou a integrar a principal lei de educação do país. Apesar de diversos títulos e artigos, por deixar claro que a obrigatoriedade fica a partir do Ensino Fundamental, os dados do censo do IBGE (2000) confirmaram a sua supremacia sobre os outros níveis da Educação Básica. Evidenciou a precariedade do atendimento de crianças de 0 a 6 e a relação entre renda familiar e possibilidades de frequência.
Questão: Que impacto isso tudo teve na sociedade?
Avanços nas leis não garantiram mudanças na realidade.
·      Tentativas para fazer valer a LDB 196
o   1998 - Referencial Curricular da Educação Infantil (RCNEI) do MEC - após estudos e debates ele é publicado e trata de 3 grandes temas:
§  Relexões sobre creche, pré-escola, concepções...
§  Formação Pessoal e Social (Identidade e autonomia da criança)
§  Conhecimento do mundo.
o   Controvérsias, críticas e divergências levaram publicações de leis como a lei nº 11.114 de 16 de maio de 2005 que ampliou o Ensino Fundamental para nove anos.
o   Resolução de nº 3 de 3 de agosto de 2005 definiu normas nacionais para ampliação do Ensino Fundamental para nove anos.
o   2007 - Discussão na Câmara Federal, o FUNDEB que substituirá o FUNDEV de 96.
o   Recursos determinados pelo Fundo não incluía a Educação Infantil até 5 anos.
Discussão sobre as funções da Educação Infantil. Assistencialismo x Educação.
Para Kulhmann Jr. (2001) essa polarização entre assistir e educar é equivocada. Não são coisas opostas.
§  Denominações creche e pré-escola - diferenças no atendimento, faixas etárias, objetivos educacionais.

Questão
o   Para quê: adequar, preparar ou antecipar o Ensino Fundamental?
Articulação (como Ensino Fundamental) - olhar para a criança - formação.
o   Distância entre as concepções teóricas e as concepções dos profissionais da Educação Infantil em suas falas.
Ainda falta um bom caminho a percorrer em busca da qualidade na Educação Infantil, mas alguns passos já foram dados, isso é o que importa: o continuar em constante movimento, parar jamais.

BASSO, Cláudia de Fátima R.,
CHAVES, Laura Cristina P: Concepções: Ponto de partida, In: Educação infantil de Qualidade: direitos das crianças e das Famílias.
Blumenau, Nova Letra, 2007

26/03 - Organograma (Educ. Infantil)

19/03 - A construção social da criança: O que isso significa?

Na nossa sociedade cristã ocidental, a criança, como construção social, é entendida enquanto uma construção social sobre um período da vida humana que informa as experiências históricas de ser criança. Se a infância é determinada por um período, se modifica e atende anseios da sociedade, o ser criança também. Vê-se, então, portanto, que não existe um único conceito fechado acerca do que é ser criança. Ele varia nas épocas, culturas e condições sociais e econômicas.
Sendo que um conceito é fruto de uma negociação social, cada sociedade, por meio das suas práticas e elementos culturais, sinaliza o que é a criança.
O sentimento de infância, o olhar para a criança como possuidora de especificidades, surgiu no final da Idade Média. Pode-se imaginar que isso não tenha ocorrido antes por conta da grande taxa de mortalidade das crianças pequenas e da simplicidade da organização social baseada grandemente na vida rural e na produção dos meios de subsistência.
Com os avanços tecnológicos, o advento da tipografia e o surgimento do telégrafo marcaram mudanças nas concepções de criança. Ela passou a ser vista como um ser de falta que deveria ser preparada para a vida adulta, agora letrada e necessitando de maiores habilidades. Da paparicação à moralização e racionalidade, a criança foi submetida à educação padronizadora. Até hoje essas concepções aparecem.
A psicologia entende o desenvolvimento humano como um processo de construção. Diferentes estudiosos formularam suas concepções baseadas em visões naturalistas, inatistas e interacionistas.
No meio acadêmico, os pensamentos de Vigotski acerca do pensamento e da subjetividade como fruto cultural está em voga. Entender o outro (LAROSSA) e estabelecer uma relação dialética com essa criança que tem muito a falar sobre si mesma, mostra-se imperativo nesse momento de mudança no conceito de criança, que é por natureza mutável historicamente.

12/03 - A infância: história e concepções

GALVÃO, Andréa Studart Corrêa. Crianças, Infâncias e Educação. In: Educação Moral e Qualidade na Educação Infantil: desafios ao professor. Dissertação de Mestrado. Adapt. Brasília, UNB: 2005. p. 37-51.
Andréa Studart Corrêa Galvão é coordenadora e professora do curso de Pedagogia da Faculdade Paulista – UNIP de Brasília; coordenadora do curso de Especialização em Educação Infantil da Faculdade Gama Filho em Brasília.
A autora discorre sobre o tema infância e sua ligação com a educação baseando-se em citações de autores de autoridade à cerca do conceito de criança e infância ao longo dos tempos. O texto está dividido em 3 subtópicos: a invenção da infância; as diferentes faces da criança e da infância igualadas num vir-a-ser; construindo um outro olhar- o encontro com a infância na alteridade. Primeiramente o texto afirma que os conceitos “criança” e “infância” não são sinônimos e são construídos socialmente. A aproximação deles se dá através do sujeito (a criança), se diferenciam de acordo com as vivências, contextos e com a duração - a infância é um período mais longo. Complementam-se na complexidade das questões e na necessidade do entendimento das suas fases e mudanças provocadas pelo meio social e suas exigências.
Ao citar Freitas e Kullmann Jr (2002), a autora ilustra como a história da infância e da criança se faz do ponto de vista dos adultos. Esses autores sugerem dois caminhos como opção. A primeira seria uma perspectiva unilateral- os adultos falando sobre as crianças- “um olhar de fora”- A segunda seria por meio do diálogo com a criança, ouvindo sua voz e dando sentido a essa fala estabelecendo uma relação de alteridade, numa dimensão ética.
Não importa o caminho que se escolha, as conseqüências para a criança, serão a base para a organização das instituições de educação infantil. Essa relação entre criança, infância e educação permanece imutável. São transformadas à medida que novos elementos culturais surgem, novas necessidades e a realidade muda. Por isso, não há como entender a criança de hoje sem levar em consideração o passado, as raízes que moldam as idéias e concepções sobre o tema, como afirma Gadotti (2000), que para se entender o presente e abrir possibilidades para o futuro é preciso visitar o passado. Visitando o passado, fica claro que o sentimento de Infância não é algo natural, ele foi construído socialmente.
No primeiro subtópico a autora cita um dos pioneiros a estudar a história da infância. Segundo Aries (1981), por meio da arte e da iconografia, é possível perceber a evolução da história desse sentimento, do início de um olhar para criança como ser que necessita de cuidado, atenção,  diferenciados por parte dos adultos. Esse pesquisador aponta que na Idade Média esse sentimento de infância era inexistente, não significava ausência de afeto pelas crianças, o que não existia era a consciência da particularidade infantil. Nos séculos XVI e XVII surgem sentimentos de paparicação. Os adultos enxergavam nas crianças ingenuidade e pureza. Até os 5 ou 7 anos elas eram vistas como bibelôs, a infância era curta, pois passados esses anos, a criança se mistura aos adultos e participava da vida comum.
No final do século XVII ocorreu uma mudança: os bibelôs foram alvos dos moralistas que surgiram e viam com maus olhos tamanha paparicação. A preocupação deveria ser em disciplinar, usar a razão, moralizar os pequenos. Homens de lei e religiosos defendiam uma formação moral do ser imaturo, inocente e frágil.
A criança passou a ser vista como incompleta nesse contexto, surge a escola para as crianças  no século xx, para atender às demandas e anseios da sociedade em busca de formação moral. A criança transformou-se em aluno. A escola seria um lugar que a protegeria do ambiente perigoso para a sua pureza – o convívio social. Os uniformes a tornava igual e como aluno (sem luz), deveria se sujeitar a escola (lugar do ócio) a homogeneização da sua natureza e domesticação do seu corpo e mente.
Postman (2002) acrescenta aos estudos sobre o tema ao indicar que a infância conhecida atualmente está desaparecendo. Afirma que a história da infância passou por três grandes momentos:
1º- invenção da infância como advento da tipografia;
2º- o auge no século XIX, quando a criança é considerada essencial à família e à sociedade;
3º- desaparecimento da infância, com o surgimento do telégrafo.
Para ele a tipografia criou um mundo simbólico que exigiu uma nova concepção de idade adulta. O mundo letrado exigiu novas habilidades. A infância surgiu nesse contexto de necessidade de formar leitores e escritores.
A autora ainda cita Postman para afirmar que o sentimento de vergonha foi concomitante ao sentimento da tipografia. A sociedade adulta deveria preservar a inocência da criança.
A psicologia do desenvolvimento infantil desempenhou um papel dominante e normativo. Como afirmam Dalhberg, Mos Pence (2003).
A universalização da criança e a hierarquização de estágios de desenvolvimento foram disseminadas no mundo todo e muitas concepções de infância sugiram e se fazem presentes até a atualidade.
No segundo subtópico, a autora discorre sobre as implicações das concepções da modernidade sobre infância. Elas traçaram o caminho a ser percorrido pela criança. Por meio da educação. Para Dahlberg, Mos e Pence (2003), a preocupação não é além der às necessidades latentes da primeira infância, mas sim evitar problemas futuros. A dimensão ética e preterida em função da técnica, pois a criança é vista como uma “tabula rasa”, com espaço a ser preenchido. Cultura, preparação para o mercado de trabalho, consumidores em potencial.
Os autores criticam não a assistência, mas sim a forma e finalidade desse atendimento. Carente de ética, reduz a criança a uma “matéria prima”. As visões naturalistas, sob o ponto de vista do adulto (olhar de fora) sofrem críticas de Boto (2002).
Kramer (1995) é citado para ilustrar a concepção de infância que considera o contexto e a cultura. Para ela, não existe “a criança”, mas sim indivíduos pequenos que são afetados pela situação da “classe social”. Larrosa e Lara (1998) sugerem um rompimento com paradigmas e com isso uma aproximação com o “outro”.
No terceiro subtópico, a autora suscita a necessidade de um ouro olhar, um olhar na alteridade, com disposição de escutar, sem saberes prontos a respeito do “outro”. Como afirma Larrosa (1998), reconhecer a infância na sua humanidade, como outro diferente do eu, com seu comportamento, sua cultura, sua linguagem, seu modo de perceber e analisar o mundo (pág. 149). Tudo isso no campo da ética, vista como um tesouro oculto por jamais ser esgotável. A alteridade se faz necessária, pois, como afirma Oliveira (2001), a compreensão das crianças não se faz mais pelo olhar impositivo de máscaras esculpidas pelos adultos, mas sim pelo respeito.
A pedagogia deve se adequar a essa nova relação, possibilitar aos envolvidos com a Educação Infantil, uma mudança de atitude.
O texto, de forma clara e contundente, explicita a evolução da história da criança e infância, nos alerta para as concepções que ainda estão vigentes no imaginário social e que ignoram a complexidade do indivíduo.
O perigo da padronização, da visão da falta, do ir a ser, leva a programas educacionais vazios de compromisso com a ética. Pois olham a criança como um ser “menor”.
Devemos nos esforçar a refletir e mudar nossas práticas baseadas num estudo consciente dessas concepções e em busca de uma aproximação honesta com as crianças, sem hesitações, sem julgamentos, mas sim na postura humilde de que elas “o outro”, tem muito a nos dizer do que precisamos escutar.
Esse texto interessa a todos que estão envolvidos na Educação Infantil, que sejam profissionais da educação, gestores, legisladores e governadores.

12/03 - Exposição Oral

 ·         Texto: Crianças, Infâncias e Educação
                        Andréia Studart Correa Galvão
            Exposição oral da professora baseado na apresentação do PowerPoint

·         Tese: Educação Moral
·         Infância e criança são palavras sinônimas? Não
·         Onde se aproxima? Sujeito (criança) - São conceitos historicamente construídos.
·         Onde se diferenciam? De acordo com as vivências, contextos. Infância é um período mais amplo.
·         Onde se complementam? Entender as fases, questões imbricadas.
·         Conceito da autora sobre a criança e infância - pág. 37 - citação de Freitas e Kuhlmann Jr. (2002 p. 07)

1º - Um olhar de fora - o que se tem como representações sobre criança.
Relação de Alteridade
·         Compreender a criança a partir de suas experiências vividas na infância, da sua história.
·         Falar com ela, senti-la... Particularidades.
·         Vê-la como um “outro” numa dimensão ética do ser-criança (ética - consequências)
·         O sentimento de infância: o que é
>> consciência do que ocorre - conceito (de ARIES, 1981) > criança que quebra o carrinho para saber como funciona.
A infância e a criança ao longo da história, de acordo com ARIES (1981)
·         Idade Média - “sentimento de infância não existia.
·         Séculos XVI e XVII - paparicação: não é o ideal.
·         Vista como bibelô.
·         A partir do século XVII surgiram os moralistas - homens da lei e religiosos com suas críticas à “paparicação” das crianças.
·         Preocupação com a disciplina e à racionalidade.
·         Começou-se a dar um espaço, moralização. Não misturar com os adultos.
·         Surgiu a escola do século XX - escola para crianças.
·         A escola transformou as crianças em alunos - aluno (sem luz) escola (lugar do ócio)
A escola homogeneizou a natureza particular da infância e domesticou seus corpos e mentes.
      Utopia - no máximo - agrupar.
·         Escola: espaço criado para a elite.
·         Abrigar a infância sob a perspectiva do adulto - a formar-se.
A criança não é vista como sujeito, em si mesma.
·         Autores da psicologia - estágios de desenvolvimento - percebidos como universais.
·         Contexto sócio-histórico.
·         Locke: concepção de outros.
Rosseau -
Dewey - pedagogia de projetos.
Piaget -
Dahlberg, Moss e Pence (2003)

As concepções da modernidade traçaram o caminho a ser percorrido pela criança, por meio da educação, determinado pelo adulto, como um ponto de partida e outro de chegada.

Olhar os dois lados: de fora e de dentro.
Dois pontos: Partida e o de Chegada.
·         Preparação da criança para a vida adulta.
·         Inserção no mercado de trabalho
·         Na visão de Krammer (1995)
A concepção de infância (...) supõe que se conheça como se dá inserção da criança na sociedade (...) trabalha?
·         Para Larrosa (1998)
Algo que escapa... facetas inalcançáveis.
Repensar as relações com esse outro “criança”.
E hoje?
RCNEI
Mudança de olhar...
Aceitar os dois olhos.
·         Diagnóstico inicial - registros - o que se faz com esses registros.
·         Desenvolver o sentimento verdadeiro de infância.

26/02 - Memorial

Eu sou a filha caçula de quatro irmãos da família Cardoso. Nasci na cidade satélite do Gama - Distrito Federal, no ano de 1978. Hoje tenho 32 anos, sou casada com Alex Ander há 8 anos e tenho um lindo rapaz de quase 4 anos chamado Samuel. Sempre estudei em escola pública, me formei em Pedagogia na UnB em 2002. Estou trabalhando na Secretaria de Educação há 14 anos e me considero uma amante da profissão de educadora.
Antes de falar do meu caso de amor com a Educação Infantil, gostaria de falar um pouco mais sobre minha história de vida. Nasci na cidade satélite do Gama - Distrito Federal, no ano de 1978. Sempre fui cercada de muitos cuidados. Minha mãe teve uma gravidez difícil e por ter sofrido hemorragia após o parto. Nasci pequena e até a idade de 15 anos fui muito magra e sempre estava doente. Não tenho lembranças da época em que morei no gama. Sei que minha mãe conta das travessuras que meus irmãos e eu aprontávamos, como comer banana verde, espiar minha tia namorando, imitar a “Gretting”, pular na barriga da minha irmã fingindo ser a ‘Batgirl”, com o capuz da toalha na cabeça.
Mudamos para a Ceilândia em 1981. Posso dizer que as lembranças da minha infância, da minha vida escolar, se confundem com a história dessa cidade. Como o bairro P. Sul tinha pouco tempo de existência, necessitávamos de infraestrutura, como abastecimento regular de água, asfalto, escolas, transporte e segurança. Junto com o meu desenvolvimento vivi o desenvolvimento da cidade e por isso tenho um senso de pertencimento muito grande em relação ao lugar mais nordestino do DF. Falando em nordeste, por ser filha de maranhenses, a cultura popular da região sempre fez parte da minha vida. Sendo o meu pai músico, posso dizer que a minha educação infantil no lar foi regado por muitas canções, harmonia, brinquedos cantados e confraternização. Antes mesmo de entrar na escola eu já cantava as músicas infantis, pois brincava com meus irmãos mais velhos, primos, vizinhos de escola. Meu pai fazia questão de tocar na sanfona e no piano músicas para a garotada cantar. Uma música infantil popular que me lembro muito bem é:
Eu vi uma barata na careca do vovô
Assim que ela me viu
Bateu asas e voou
Dó ré mi fá
Fá fá
Do ré do ré
Ré ré
Dó sol fá mi
Mi mi
Dó ré mi fá
Fá fá
Cantávamos assim porque todos queriam tocar ao piano essa melodia que o meu pai nos ensinara.
Esse hábito me ajudou a gostar da escola quando comecei a frequentar a turma do Pré I no ano de 1982 na escola Classe 46 do Psul. Quero dizer que fui privilegiada por iniciar a minha vida estudantil nesse período de ebulição na educação, principalmente no que tange à Educação Infantil. Como nos mostra Vilarinho:
O Ministério da Educação passa a se ocupar da educação pré-escolar, que se torna ponto de destaque no II e no III Plano Setoriais de Educação e Cultura (PSEC), que eram desdobramentos dos Planos Nacionais de Desenvolvimento, elaborados durante o governo militar, para os períodos 1975-79 e 1980-85. Além de solução para os problemas da pobreza, a educação infantil resolveria as altas taxas de reprovação no ensino de 1º grau (Vilarinho, 1987). Apud Kullmann 2000.
A questão do gosto por ouvir histórias, causos, repentes, contribuiu para o desenvolvimento da minha linguagem. Curioso notar que a minha família mantinha a o costume de fazer “rodinha de conversa” e momentos para a oração. Comíamos juntos à mesa e agradecíamos pelo alimento. Uma vez, o meu pai estava orando e disse: “Senhor, nunca deixe faltar o pão de cada dia...” Eu interrompi e acrescentei ao Pedido: “E a manteiga também”. Nessa ocasião eu tinha 5 anos e já me destacava por ser de opinião e por ser muito esperta na escola.
Como é bom me lembrar da minha vida na escola. Posso afirmar que sempre fui feliz nela, mesmo passando por situações difíceis, mas acredito que tudo serviu para me tornar uma pessoa melhor, uma profissional com referência de como ser uma pessoa que marca ao passar na vida dos meus alunos. Tudo que faço na minha profissão, de certa forma estou reproduzindo o que aprendi com os meus mestres, tanto com os de casa como os das escolas que freqüentei. E a que me refiro que aprendi? Aprendi a ser solidária, ter rotina, cantar no começo da aula ( não me esqueço do momento em que todas as turmas se reuniam no pátio para cantar, especialmente a música “Pai Abraão” que era uma verdadeira ginástica para os membros do corpo e me causava risos porque o nome do meu irmão do meio é Abraão). Das brincadeiras mais marcantes destaco uma em que usávamos pneus velhos. Brincávamos de corrida, onde levávamos o pneu empurrando com a mão. Como era muito “cibita”, a impressão que eu tinha era que o pneu era de caminhão de tão grande que era para o meu tamanho. A gente também costumava rolar no gramado da escola, onde tinha um declive e geralmente os adultos não interferiam nessa brincadeira “perigosa”. Hoje confesso que não deixaria os meus alunos repetir essa travessura, pois eram frequentes as batidas de cabeça, ferimentos na grama e encontrões com outros colegas. Essa era uma alternativa para a falta do parque. Em compensação, brincávamos de tudo que criança de verdade brinca: bola, amarelinha, estátua, corre-cutia, cadeirinha, “meu burrinho leva carga sem sentir”, elástico, pique - esconde, sem contar que na escola dançávamos todas as músicas da Xuxa, Balão Mágico, Trem da Alegria, Mara Maravilha... Vejam só, os anos 80 parecem ter sido a melhor época para se divertir e aprender coisas de criança. É verdade que a cultura de se usar a TV como babá aumentou nesse período, e o apelo comercial de produtos infantis bombou, mas ainda éramos crianças.
Todas essas boas lembranças, entre outras coisas, me influenciaram na escolha da profissão. Eu queria continuar nesse lugar encantador e disseminador de conhecimentos, facilitador da socialização, onde a cultura era dada a conhecer e se modificava. Procurei durante o meu curso Normal aproveitar tudo que me fizesse uma boa professora. O juramento que fiz no dia da colação de grau não sai da minha mente: “... Se formar homens eu conseguir, sentir-me-ei honrada.”
Com isso na cabeça, iniciei a minha carreira aos 18 anos, numa turma de Educação Infantil de 4 anos. Tudo era novo ‑ Preencher diário, coordenar, não ter recreio, não ter parque, ter de “ensinar” conceitos como alto e baixo através de exercícios mimeografados do tipo: “pinte a árvore mais alta”. Isso não fazia sentido na minha cabeça: Se na escola tinham muitas árvores, por que a gente não podia fazer comparação entre elas? Parece que seria perigoso ‑ e de fato era. Meninos grandes correndo, projeto arquitetônico falho, falta de um monitor para auxiliar com as quase 30 crianças...
No meio dos meus amigos, principalmente entre os que trabalhavam com disciplinas específicas, havia um sentimento de decepção pois, para eles, menino de prezinho só brincava. Para mim isso no fundo fazia sentido, pois perdia contato direto com os conteúdos programáticos mais “avançados”. Só mais tarde, na graduação, ao conhecer a professora Fátima Guerra e a sua paixão por essa fase da Educação, entendi que o que fazemos nos anos iniciais na Educação Infantil é primordial para o bom desenvolvimento das crianças.
Mesmo assim, sem saber direito o que estava fazendo, o meu início na carreira foi legal, apesar de ter sido uma época onde o conceito de construtivismo estava sendo mal interpretado nas escolas, tentei deixar uma boa marca nos meus lindinhos que dançaram muito as músicas das “Chiquititas” comigo e experimentaram atividades psicomotoras e teatrais, além de fazer muita bolinha de papel crepom (era moda na época).
Nos próximos anos, por questão de pontuação, só conseguia trabalhar com alunos maiores e sempre me perguntava se a dificuldade que o aluno enfrentava, principalmente na oralidade, na falta de criatividade e de raciocínio lógico, não seria fruto da metodologia adotada desde a educação Infantil de se trabalhar somente com atividades de papel, sem ligação com as necessidades reais dos alunos, com o culto à apresentação de espetáculos vazios culturalmente, a falta de parque e de atividades motoras.
Decidi tentar trabalhar com a Educação Infantil sempre que possível, para evitar que os meus alunos saíssem da educação Infantil como umas verdadeiras “lagartinhas” papadoras de folhas ‑ exercícios mecânicos e sem significado para eles.
Em 2005 trabalhei no Jardim de Infância e Escola Classe 31 do Setor “O”. Que Alegria! Fiz tantas amizades, desenvolvi tantos projetos, que não consigo falar tanto, recomendo que o leitor veja com seus próprios olhos o material produzido nesse ano pelo 1º Período, Turma “G”, Vespertino: gravamos um CD com as músicas preferidas, fizemos um desfile de moda baseado na flora brasileira, fizemos atividades de educação física, dança e jogos. Tinha a “Tia Maricota”, que contava história, produzimos o caderno histórico da criança, o caderno de imagens de livros lidos pelos pais, dramatizamos, cantamos, passeamos, tudo isso foi eternizado pelas fotos e pelo trabalho do tio Túlio, que era tio da Sarah, a minha fofuxa, que não me esqueço. O trabalho foi tão rico, que até um tema que é difícil de lidar, que é a agressividade, virou tema de um poema que fiz especialmente para eles: “Suas mãos”.
Considero-me mais madura profissionalmente nessa época. Fiz tudo isso com o auxílio das famílias, que considero minhas parceiras.
Em 2009, voltei a trabalhar com uma turma de 5 anos. Era reduzida por causa do aluno Daniel, que tinha um diagnóstico de TGD (Transtorno Global do Desenvolvimento). Foi muito difícil, mas no final posso dizer que foi a maior conquista da minha carreira. Desenvolvi muitos projetos, mas a falta de condições adequadas me fez pensar na viabilidade da inclusão. Acredito que esse seja o caminho certo a seguir, mas ainda temos de avançar em muitos aspectos. O trabalho foi tão bom, que a direção da escola me convidou para assumir a coordenação no ano de 2010. Confesso que não é fácil mudar práticas tão arraigadas, mas plantamos algumas sementes. O “Projeto Maritaca”, desenvolvido pela Secretaria de Educação, me ajudou a ganhar espaço nas coordenações e propor estudos sobre os temas: Planejamento, Rotina, Trabalho Diversificado e Avaliação na educação Infantil. Esses temas foram apontados no SIADE de 2009 como os mais problemáticos. Produzi um portfólio da escola em dezembro e percebi que fizemos muita coisa significativa. Nas fotos, ficam claras as expressões de felicidade dos alunos e professoras.
Felicidade! Para mim, essa é a palavra que deve ser a marca identificadora da Educação Infantil. Apesar de a teoria dialética afirmar que desenvolvimento vem com o sofrimento, acredito que mesmo o sofrimento do período da separação dos pais, a dificuldade em aceitar as regras, o aprendizado de compartilhar, produz bons frutos. Não dizem por aí que a função da Educação é formar cidadãos? Compartilho o pensamento de Oscar Wilde: “A Melhor maneira de tornar as crianças boas, é
torná-las felizes”.
Quero tornar boas as crianças com quem convivo. Boas em se expressar, em entender o mundo, em socialização, em companheirismo, em criação, em união, em amar e em ser amadas. Pois, no final das contas, são as relações que ficam na mente. Eu não me lembro de quantas vezes fiz bolinhas de papel crepom na minha turma de prezinho, mas me lembro de muitas risadas, das músicas, das brincadeiras e do cheiro de tempo bom. Essas lembranças que me visitam quando estou em casa com meus sobrinhos e com meu filho ou atuando na minha escola servem como bússola e me ajudam a constatar que sou uma educadora de crianças.